sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Sobre o livro "Baloiço". Maria Antónia Magalhães

“A Margarida mostra-nos a crença na superação interior, como forma de delinear o caminho rumo à felicidade, por oposição a uma quase fatal reprodução das “dores da vida”. Esta crença, que encontra eco em vários momentos do texto, remete-nos para a construção de um sentimento de esperança/superação perante conjuntos de complexidades e incertezas. Numa linguagem sem pretensiosismos, fala-nos de situações problemáticas, por vezes mais sugeridas do que explicitadas, num dialogismo latente com o leitor. A unidade da obra não está no enredo propriamente dito, não cria no leitor a ânsia pelo desenlace, mas imerge-o nas relações que se entretecem entre personagens, emoções, intuições, memórias, locais, acontecimentos. … E procura convidar o leitor a mergulhar nas suas próprias memórias, num tom intimista, muito bem conseguido. Podemos dizer que a autora não lançou o seu olhar sobre uma janela que qualquer outra pessoa abriu, mas atravessou-a, saiu, questionou-se, envolveu-se, desmantelou, talvez, a própria janela e libertou tudo o que estava lá dentro, para que se torne visível ao coração dos leitores o que estava encerrado para lá da vista. E vários foram os processos: recordar, selecionar, excluir, elaborar, tecer, distribuir empatia aqui, mas não ali… Importante será referir que, num texto povoado por personagens que vivem problemas dramáticos, encontramos momentos de grande harmonia: a doçura de Lídia, a revelação da conceção de Sofia feita pela sua mãe em fase terminal, o encontro de Maria e Pedro em caldas de Aregos… É um texto onde se pressente uma certa melancolia, mas, ao mesmo tempo, cria esperança na vida. Um sentimento positivo que deixa entreabertas possibilidades para o(s) futuro(s), convidando-nos, ou exigindo-nos que sejamos parte ativa na sua construção. Não é uma narrativa de “foram felizes para sempre”, mas opõe-se claramente à narrativa do “tudo foi tão mau que nunca poderá ser revertido”. É todo ele uma mensagem de otimismo. Todos devemos lê-lo!!” Maria Antónia Magalhães, na apresentação do livro Baloiço.

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