terça-feira, 28 de novembro de 2017

Marquei encontro com a lua

- Marquei encontro com a Lua – disse ontem o João, enquanto enrolava a folha já amarfanhada e suja do seu caderno. - Foi a maior lua cheia dos últimos sessenta e oito anos. E só a voltaremos a ver assim daqui a dezoito! – Informou com a naturalidade de um cientista especializado na área ou um jornalista competente. - Ontem, às dezassete horas e quarenta e nove minutos olhei para a lua e pensei que o meu pai também estaria a olhar para ela, lá da Alemanha. Mas não sei se a minha mãe não estaria muito ocupada no seu restaurante de luxo, aqui em Gaia, para também a poder ver ao mesmo tempo que nós… - Tens falado com o teu pai, João? - Sim, por skype, quase todos os dias. Na próxima terça-feira faço sete anos e ele vai mandar-me um telemóvel novo e talvez uma consola também. - Com quem vives, João? - Com o meu avô materno. Só os dois. A minha avó morreu durante as últimas férias de verão. A minha mãe perguntou-me se eu queria ir viver com ela, mas sei que não estava a falar a sério, pois ela está sempre ocupada e não tem tempo para mim. - Costumas ver ou falar com a tua mãe? - Às vezes, vejo-a ao domingo… - interrompe a resposta, parecendo distrair-se com a folha que ainda tem nas mãos. - Gostas de estar com o teu avô? - Gosto. Ele trata-me bem. Vamos comemorar o natal. Por minha causa. Gosto de ir ao jardim com ele. Cozinha bem, trata da minha roupa, (…), Gosto de ir ao zoo, ao Sea Life, jogar paintball, … -Fazes isso tudo com o teu avô? - Não! Faço com o meu pai … Ele já cá veio uma vez ver-me e esteve comigo quatro dias. E eu, um dia, vou ter com ele à Alemanha. Quero ir sozinho, de avião, e ele vai esperar-me ao aeroporto!... (…) O professor do João pediu-me para ir à escola observar e consultar o seu aluno que, desde o dia em que foi integrado neste novo contexto escolar, tem apresentado uma determinada instabilidade emocional. Tem ideia que o João, apesar de dar sinais de um desenvolvimento cognitivo expectável, não rentabiliza as suas capacidades, não desenvolve as suas competências escolares de modo semelhante aos pares. Depois de estar com o João, na conversa que tive com o professor, este referiu-me que o seu aluno, apesar de bem integrado nesta sua nova turma e se mostrar em muitos momentos alegre e comunicativo, por vezes isola-se no tempo do recreio e frequentemente é encontrado a um canto do pátio, onde se localiza um pequeno canteiro com uma oliveira no centro. João encosta-se à “sua” árvore e olha as nuvens e os riscos de algodão branco pintados pelos aviões, avalia a tonalidade do céu e dos sonhos. E o professor vai fazendo os seus próprios registos mentais, olhando os olhos do seu pupilo sempre que este retorna à sala. O professor sabe que esta criança terá que aprender a lidar com as perdas e com os possíveis sentimentos de abandono. Tem conhecimento que pode estar em risco de evoluir na adolescência para condutas mais marginais ou até para comportamentos aditivos, pois apercebe-se que as suas atitudes muitas vezes se inscrevem num padrão de desconfiança básica em relação a outros, particularmente a adultos. O professor sabe que uma criança vítima de abandono ou de qualquer tipo de violência pode vir a ser um adulto com comportamentos desadaptados ou apresentar sinais de patologia transgeracional. Mas… O professor sabe que, se tiver a capacidade de oferecer ao seu aluno um modelo de relação recheado de boas experiências comportamentais e emocionais, orientadoras e seguras, o João terá uma maior probabilidade de confiar nas pessoas que o circundam e naquelas que o virão a rodear. E em si. E vai poder acreditar que, sempre que olhar a lua, quer ela esteja no seu tamanho aumentativo ou não, outros a olharão do mesmo modo, em sintonia. O João já se sentiu perdido, abandonado, inseguro e ilimitadamente triste. Mas o João pode contar com adultos que se preocupam com ele, que vão tentar compreender as suas necessidades e ajudá-lo a entender o que sente. O João poderá vir estabelecer ligações preciosas na sua vida. Poderá vir a olhar a lua em sintonia com alguém. Conto de Margarida Frias Rocha; Ilustração de Manuela Melo, 27/11/2017

Abertura da Feira do Livro da EBAG

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Alecrim em S. João de Loure

A turma do oitavo ano desta Escola Básica do distrito de Aveiro recebeu carinhosamente a autora do Livro Alecrim, Intimidades, Segredos e Emoções e aproveitou o momento para, em conjunto com as outras turma de sétimo e nono ano, debaterem temas que os preocupam, problemáticas que muitas vezes lhes entram pela "porta dentro" ou que têm conhecimento que acontecem aos seus pares.

ABORTO
BULLYING
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
VIOLÊNCIA NO NAMORO
PREOCUPAÇÕES EXAGERADAS COM O ASPECTO VISUAL
DOENÇAS DO FORO ALIMENTAR
DEPRESSÃO
ANGÚSTIA
ANSIEDADE...