terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Em clima de Dia dos Namorados

Domingo foi mais um dia feliz.
Desabituada dos sons do campo, Inês acordou com os bons dias do burro que, no silêncio das gentes, chamava pelo galo que cantava ao longe.
Ensonada, espreguiçou-se na cama e o seu corpo encontrou aquele outro, que lhe apeteceu. Jorge era tão quente que o edredão abandonara a cama durante a noite. Ainda desprotegido no sonho, afagou a cabeça que se lhe pousou no peito. A mão dela já partira à descoberta de outras ternuras. Já desperto, ele sorveu-lhe o peito e o grito abafado. Perdida, ela agarrou-o como se agarra um tesouro e ele afogou-se nela.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Extratos da Apresentação de “Alecrim”


Sobre a Autora e sobre o Livro:
Margarida Frias Rocha é psicóloga e trabalha há vinte anos com crianças em risco.
                A necessidade de escrever surge-lhe frequentemente, como um processo de organização de ideias, como desabafos ou no planeamento das suas ações.
No último carnaval andava preocupada com uma situação que acompanhava e, entre outras coisas que fez para lidar com o assunto, escreveu sobre ele, de uma forma bem espontânea, como um sopro. Nasceu o “Alecrim”.
A palavra ALECRIM remete-nos para uma planta silvestre, conhecida pelo seu aroma, que a autora coloca em alguns momentos cruciais do livro. O odor do alecrim ajudou a criar a atmosfera de intimidade que quis presente na narrativa. Também é o nome da escola que a protagonista gere, sendo assim um elemento mais físico da ação.
Sendo a autora psicóloga, torna-se fácil perceber a escolha do subtítulo: Intimidade, Segredos e Emoções. São os temas que mais gosta de trabalhar e sobre os quais mais reflete.
Tal como Vargas Llosa diz (2002): “ Os romances não são escritos para contar a vida, mas para recontá-la”. Por vezes, o sujeito ficcional mistura-se com o sujeito pessoal e o ambiente que o cerca. As memórias adquirem o mesmo valor da ficção. Há imagens que sugerem outras imagens, sensações, sentimentos, tornando mais rica a experiência de escrita.
Em Alecrim, Margarida colocou recordações de imagens, de citações, de cheiros num texto coloquial, conversacional, intimista, com muito diálogo, mas onde também se lê muito nas entrelinhas. São os chamados “espaços do silêncio”…Magalhães, M. A.
Nas suas apresentações, Margarida cita Virgínia Woolf, afirmando rever-se nas suas palavras:
“ [é] o prazer mais intenso que eu conheço. É o encantamento que experimento quando, escrevendo me parece descobrir as relações precisas; tornar viva uma cena; dar coerência a uma personagem. Daqui nasce, eu poder dizer, uma filosofia; ou então uma ideia que eu sempre tive; que por trás do algodão se oculta um desenho; que nós – todos nós, seres humanos – entramos no desenho; que o mundo inteiro é uma obra de arte; que nós somos parte daquela obra de arte”. WOLF, Virgínia. Contos completos. Fixação de texto e notas de Susan Dick. 

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Emoções em Pedrógão Pequeno!

Rita ia a caminho da casa vizinha ver se encontrava alguém. Talvez conseguisse convencer a tia Rosa a levá-la a ver os animais. Sabia que tinha de ser antes de anoitecer, para não perturbar os seus sonos. Haveria algum cordeiro para nascer? Estariam alguns pintainhos na fase de partir a casca do ovo?
Inês ouviu Jorge lembrar Miguel para ir cumprimentar o burro do tio Zé, que já dera sinais de o querer chamar.
Chegou-se à janela para sacudir o pano do pó. Olhou os filhos e, com o coração quente de amor, recordou Miguel:

- Mãe, quando eu morrer e me transformar num pintainho, eu vou ser aquele que vai estar sempre ao pé da porta, para tu me reconheceres!